quarta-feira, 30 de março de 2011

Não sei dar o nome às coisas

Não sei dar o nome às coisas.
Homem do mar
apenas sei as estrelas e as marés
os ventos e as vagas da saudade.

MIGUEL AFONSO

sexta-feira, 25 de março de 2011

Esta noite vou sussurrar ao teu ouvido

Esta noite vou sussurrar ao teu ouvido
as memórias de tempos que passaram,
a ver se relembramos quem já fomos
e esquecemos dores que ficaram...

MIGUEL AFONSO

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sentidos diversos

Segui meus sentidos e feri mentiras
desdobrei marés e persegui meus fados
e em todos os rios lavei as feridas
de mágoas caladas e sonhos cansados.

Feiticeira e maga, eras minha musa
eras sonho e dor e vaga de medos
que me assolavam as noites confusas
de sonhos cansados e negros segredos.

Sentidos diversos, doce ventania
que os sonhos nos trazem para enganar
vagas de suspiros e esta nostalgia
que mentem feridas que não vão sarar.

E eu continuo seguindo sentidos
dispersos nas noites que sonhei em vão
com doces segredos jamais desmentidos
e musas que dormem no meu coração.

MIGUEL AFONSO

Café da manhã

Não julgues o destino mágoa errante,
o café da manhã já arrefece
e o trabalho espera, como a amante
que se deseja e que depois se esquece.

Sai, sai para a vida e vê depois
se o que desejaste já tiveste;
se não o conseguiste, limpa os faróis
e segue então o rumo que quiseste.

Aquele que quiseste, não o outro
que alguém te destinou e assim te obriga
a perseguir os sonhos de um louco
que és tu seguindo os passos da formiga.

Por caminhos, más estradas, sonhos vãos
matérias cruciformes que persegues
estendendo na rua as tuas mãos
e nem que as estendes te apercebes.

Sai, sai para a vida, e vê melhor
se o que desejavas já é teu;
o café da manhã tem mais sabor
quando ainda não arrefeceu.



MIGUEL AFONSO

segunda-feira, 14 de março de 2011

Deserto

Deserto,
imagem da desolação
tão longe e afinal tão perto
do nosso coração...

Miguel Afonso

Dorme a noite nos meus braços

Silêncio! Dorme a noite nos meus braços
adormeceu o amor dentro de mim;
esquecem-se temores e cansaços,
nascem sonhos entre lençóis de cetim...

Miguel Afonso

Por um abraço

Por um abraço
nem sei que faço
por ti,
quebra-se um laço
se foge o braço
daqui.

E quero ver
o amor fazer
magia
de acontecer
o renascer
de um dia.

Dia em que vi
e percebi
o amor
junto de ti
e me rendi
a essa dor...

MIGUEL AFONSO

domingo, 13 de março de 2011

Cai-me à água um pensamento

Cai-me à água um pensamento
numa barca o recolheram
levaram-no pelo vento
nunca mais mo devolveram.

Fiquei órfão de sentidos
abandonado no tempo
numa barca de suspiros
que são ais de desalento...

MIGUEL AFONSO

Contemplação

Afago um sorriso no teu rosto
frágil lamparina que se apaga
como vai morrendo no sol-posto
a imensidão da luz.

E por sorriso entendo um doce olhar
que rejuvenesce o amor e o dilui
em cânforas de mel e de âmbar,
onde eu o pus.

E a luz que me sorria nos teus olhos
vai adormecendo em mim, neste silêncio
em que me fico e contemplo mar e escolhos
que por ti transpus...

MIGUEL AFONSO

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ciúme

O vento trouxe-me o som da tua voz
contou-me os segredos que guardavas
depois passou e foi, correu veloz
e com ele levou tuas palavras.

Fiquei sozinho na praia, remoendo
marés de pensamentos e ciúme...
Passa, tempo, passa, que estou vendo
que amar é faca de afiado gume...

E eu amo... sentindo o agudo gume da traição
cravado lentamente no meu peito...
que me mata, dilacera o coração
e distorce um amor que pensei perfeito.

A culpa é do vento, que me disse
palavras que trazia e que disseste.
Segredos que guardavas... ah, tolice
eu bem sei que nunca nada me escondeste...

Mas este ciúme, esta ansiedade
este mal-estar no pensamento...
Amor, diz-me que não é verdade...
que palavras nada são, leva-as o vento...


Miguel Afonso