domingo, 24 de janeiro de 2010

A princesa

Tomei-me de amores por uma princesa
Que nas minhas dores se ria de mim
Perdição a minha, nesta paixão acesa
Por uma princesa que se ria assim.

Princesa de um sonho sonhado por mim
Rainha das dores, só me deu tristeza
Que paixão a minha, que não tinha fim
Perdido de amor pela sua beleza!

Que triste paixão era em mim tão acesa
Que dores passei, como sofri assim!...
No meu coração era tanta a tristeza

Até este amor um dia ter seu fim…
Perdi-me de amores por uma princesa
Que ainda se ri… mas já não é de mim!

MIGUEL AFONSO

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Areia nos olhos

Tudo que eu não sabia do teu passado era areia
areia tão fina que me atiravas para os olhos...
e eu andava cego, cego por amor e por carência
pois acreditar em ti era a maneira mais intensa
de sentir que te amava...

Mas o vento, ai o vento
que semeia tempestades em tantos peitos feridos
que acorda realidades em sonhos adormecidos
fez levantar essa areia, simplesmente
e levou-a pelos ares libertando o meu olhar
e o meu triste coração...

E cego já não sou.
Tudo que eu não sabia dos teus passos era areia
que dos meus olhos já voou... E agora
nos meus passeios pela praia fora
entrego o meu olhar à ilusão
de se perder no mar e te encontrar...

MIGUEL AFONSO

Menina que canta bem

Menina que tão bem canta
quem lhe ensinou as cantigas?
Tem uma boa garganta
como poucas raparigas.

Menina que canta bem
quem a ensinou a cantar?
Decerto que foi alguém
que gostou de a ensinar.

Menina que canta assim
quem assim a ensinou?
Quero que cante pra mim
e a ouvi-la já estou...

MIGUEL AFONSO

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Beijos com sabor a mar

O mar tem pedras e sal
tem sargaço, tem peixinhos
tem conchas, água e vale
tanto como os teus beijinhos.

Beijos com sabor a mar...
Lembras-te, amor, dessa praia
dos pés marcados a par
das cores da tua saia?...

MIGUEL AFONSO

Paixão

Havia paixão
naquela flor que trazias
na mão
nessa delicada mão com que me dizias
que não
por sinais que ninguém entenderia
mas entendeu meu coração.

MIGUEL AFONSO

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Tudo em mim é falso

Tudo em mim é falso
até este nome que me deram.
E sinto que a vida é um cadafalso
a que me trouxeram...

MIGUEL AFONSO

domingo, 17 de janeiro de 2010

A lavadeira

A lavadeira lavava
a roupa que alguém sujou
e ao mesmo tempo cantava
canções que a avó lhe ensinou.

Nas cantigas que cantava
encantava, a lavadeira
e quem assim a escutava
gostava da cantadeira.

Lavando a roupa no rio
bate, bate, a roupa suja
seja com calor ou frio
ela lava, o sol enxuga.

Lavadeirinha que lavas
a roupa que eu sujei
era pra mim que cantavas
as cantigas que escutei?

Eu sei que ninguém mais tem
ó bela lavadeirinha
roupa mais branca que a minha...


MIGUEL AFONSO

No serão

Menina-mar
onde estão
as tuas saias?
Que vais estrear
no serão
das tristes praias?

Menina-rua
onde estão
os teus vestidos?
Por que andas nua
no serão
dos esquecidos?

Menina-rio
onde estão
as tuas blusas?
Por que tens frio
no serão
das tristes musas?

Menina-vento
onde estão
as tuas roupas?
Por que o lamento
no serão
das tristes loucas?

MIGUEL AFONSO

Pedras do caminho

Há em cada pedra do caminho que persigo
uma lonjura enorme, um frio estremecer
uma gelada forma de viver
que me atrofia o medo em que te sigo.

Eras sereia, eras concha, maresia
estrela de um mar onde os sargaços
se envolveram nos meus braços
e me impediram o abraço que pedias.

Percorro praias, recolho tantas pedras
que guardarei, sim, guardarei eternamente
no aconchego do meu peito ainda quente
do calor de um abraço que eu não dera...

MIGUEL AFONSO

Sal e maresia

És gosto a maresia
E eu deixo-me tentar
Pelas sombras já passadas
Que teimam em voltar.

Não peço o teu destino
Basta-me apenas ser
A estrada e o caminho
Que conduzem teu viver.

Amanhece, vai-se a noite
Como sal que se derrete
Entre as sombras e as saudades
Que a dor já me promete…

MIGUEL AFONSO

Quando o pobre por nós passa

Quando o pobre por nós passa
Desviamos o olhar
Temendo a sua desgraça
Que possa contagiar.

Quando olhamos a pobreza
Fingimos não perceber
Que o que sobra à nossa mesa
A outros falta a comer.

Desviamos o olhar
À passagem da pobreza
Fingimos nada notar
Nem a esmola queremos dar
Eles que vão trabalhar
Que é nossa a nossa riqueza.

Quando o pobre por nós passa
Fingimos que não o vemos
E é essa a nossa desgraça
Porque enquanto o pobre passa
Somos nós que empobrecemos
Ao vê-lo e nada fazermos.

MIGUEL AFONSO