quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quando o pai passava

Imagem do Google


Quando o pai passava
o silêncio caminhava de encontro às paredes 
a negrura das roupas da mãe amarelecia o sol do seu olhar. 
Eu olhava. E repetia em pensamento os passos do meu pai. 
 
Para onde ia? Nunca soube,
apenas percebia em cada canto da cozinha 
a sua ausência e o olhar da minha mãe 
que me sorria.
 
A ausência do meu pai alegrava a minha mãe,
que assim descansava as costas e o trabalho por fazer. 
Eu não sabia. Não sabia se era boa essa ausência 
mas sabia que era bom o sol brilhar no olhar da minha mãe.
 
Miguel Afonso

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Secura

A concha que o mar trouxe ficou a teus pés
a água da maré embalando a dança.
Os teus pés na água são inspiração que me alcança
os dias já passados, outras praias e marés.

Lembras-te, amor
das nossas tardes de verão
em que o sol morria nos teus olhos
e o mar chamava-se canção?

Canção de embalar
de sentir o abraço e o calor
que o sol depositava em nossos sonhos
de esperança e amor.

Hoje restam apenas as conchas
que na praia a teus pés vêm ficar.
Nada de sonho ou esperança
que se possa ainda alcançar.

E restamos nós
calados e distantes.
A sede de amor que une amantes
secou a nossa voz.

Miguel Afonso